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O Silêncio das Estrelas.

09 de Novembro de 2003.


A noite é um bocado silenciosa e enegrecida pela falta que a lua faz. Os únicos sons são das andorinhas que cantam empoleiradas nos galhos da vegetação típica pantaneira. Meu padrinho já adormeceu em sua rede, na parte mais baixa do caminhão, ao lado dos amigos, também caminhoneiros. Já eu, como em todos os dias, pego o rádio a pilha que guardo em minha mochila e sintonizo uma das estações que costumava ouvir em Marau.

A música que toca tem uma melodia triste, com acordes de um violão que parece chorar. Recosto minha cabeça no encosto improvisado que uso como travesseiro e fito o céu através do vidro. Ele nunca teve tantas estrelas. Nem mesmo quando eu não sabia contar. E todas elas assistem-me passar por mais um dia sem um rumo a seguir. Cada nota produzida pelo violão penetra meus tímpanos e consome meu interior refletindo em mim como uma procura sem fim.

Eu nem ao menos sei o que procuro.

Talvez eu só procure uma porta para passar.

Uma boca para beijar.

Um microfone para cantar.

Um sorriso para compartilhar.

Um futuro irreal que sei não merecer.

Que sei que nunca terei.

O rádio sofre uma interferência e a música torna-se ruído por instantes. Quando volta, já está próxima ao fim. E as últimas palavras do intérprete são: "Uma porta pro infinito, o irreal. Afinal, ser um homem em busca de mais." Ser um homem em busca de mais. Eu queria ser esse homem. Eu quero mais. Mais do que já tenho e que já é muito.

Eu posso ter mais, afinal. Já fui tão longe quando pensei que havia morrido... Não quero terminar minha vida assim. Não vou.


Matt.


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