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Como Sempre Estive, Estou, Estarei.

12 de Fevereiro de 2008,

Incontáveis cartões em tons de vermelho e rosa.

Todos jaziam em meu armário da escola.

Era época do Valentine's day em Boston.

Eu havia recebido três pedidos de namoro em uma semana.

Aceitara um deles, de uma moça chamada Kate.

Ela chamou-me para sair naquela noite.

Eu aceitei.

Mas não fui.

Uma brasileira ligou-me antes que eu pudesse ir.

Pediu-me para ficar na linha com ela.

Porque o livro de Stephen King a deixou com medo.

Ela aguardou na linha enquanto eu desmarcava o encontro.

Kate não ficou contente e desfez o namoro.

Antes que eu pudesse beijá-la.

Voltei à Sara, pois.

Ela não sabia do encontro, nem fiz questão de comentar sobre.

Agradeceu-me por ficar com ela, apenas, e eu retirei o suéter que vestia.

Retirei todo o resto da roupa, na verdade.

Deitei-me na cama e me aconcheguei às cobertas quentes.

Porque a noite já era fria demais.

Ainda que o telefone fosse suficiente para me aquecer.

E Sara tagarelou por horas ininterruptas.

De vez em quando ela duvidava que eu estivesse na linha.

"Brent, está aí? Não me deixa sozinha."

"Estou aqui."

"Estou atrapalhando?"

"Imagina."

Imagina.

Eu gostaria de poder dizer que ela nunca me atrapalhava.

Gostaria que ela pensasse o mesmo sobre mim.

Aí eu também poderia ligar todas as vezes em que...

...Sentisse saudade dela.

"Brent, você continua aí? Está tão silencioso..."

"Estou."

"Você está com sono? Que horas são aí?"

"Estou bem."

"Porque me mostrou aquele livro? Ele é ótimo, mas..."

"Está com medo?"

"Morrendo!"

Senti-me à vontade para rir dela.

Ela também riu, como se fosse uma piada engraçada.

Contou-me que o motivo de rir era minha risada.

Disse que eu fazia tão pouco, mas que gostava de ouvir.

A fazia parecer mais legal, me fazia parecer interessado nela.

Como se eu não fosse interessado o suficiente.

Naquela noite eu fui dormir na alta madrugada.

Eu nem lembrava do fora que levei mais cedo.

Porque a voz dela ainda penetrava minhas memórias e sussurrava.

Às vezes ela me perguntava se eu estava lá.

E eu só queria poder dizer: "Como sempre faço."

Mas só dizia: "Estou."

Porque sempre estive.

Porque sempre estarei.

B. Carter.


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